quarta-feira, 29 de março de 2017

Estados Unidos – Da Colonização à Independência – Parte 1 – A Colonização: peregrinos, sem terra, negros e índios na fundação das 13 colônias.


Introdução

            A formação dos Estados Unidos contou com um projeto não muito diferenciado da formação de maior parte dos países do continente americano[1], portanto a consolidação da independência das 13 colônias inglesas do norte contou com a uma unificação territorial de modelos díspares, porém que se uniram em torno de um mesmo ideal: o fim dos laços com a metrópole. Para dar conta de seu projeto de país livre. As 13 colônias lutaram pela sua liberdade, no entanto o fim da repressão inglesa contra os seus colonos, não representou necessariamente uma igualdade e democracia para todos os habitantes. Em julho de 1776 o nascimento da nação ocorria sob a luz das ideias iluministas, do protestantismo, da escravidão, do genocídio indígena e exclusão das mulheres.
            Porém até chegarmos ao processo de separação, precisamos entender sobre quais bases essas colônias se formaram e aqui, no presente texto, abordaremos questões específicas como: O que motivou a Inglaterra a se lançar ao mar em um projeto de colonização? Quais foram os grupos que habitaram essas treze colônias? E como foram resolvidos, ou enfrentados, os problemas multissociais, culturais e religiosos desse processo?

As Treze Colônias
           
            A colonização da parte norte do continente americano não foi uma tarefa simples, enquanto em 1600 os portugueses e espanhóis já haviam se estabelecido como potências ultramarinas, a Inglaterra ainda trilhava seu caminho colonizador. Durante o século XVI, a rainha Elizabeth I concedeu a sir Walter Raleight o direito de exploração das terras que descobrisse. No entanto o projeto fracassou por conta de ataques indígenas, fome e doenças, assim como relatou o líder de uma expedição que veio para reforçar a colonização. Portanto o projeto ia renascer no século XVII.
            Agora a coroa inglesa designaria a colonização a companhias como a de Londres colonizaria o norte da região enquanto a de Plymouth ficava com a parte sul, essas empresas tinham objetivo de povoar e explorar a região. Em pouco tempo as duas empresas haviam falido por conta das dívidas com a metrópole. Porém o impulso já estava dado e, no período entre 1607 e 1638, doze das treze colônias já estavam estabelecidas, e o povoamento seria garantido por alguns acontecimentos em território inglês que forneceram contingente humano, como:

  • Conflitos entre protestantes e anglicanos.           
  • Os cercamentos (enclousures).

            A ideia de que as pessoas enviadas para as terras norte americanas eram somente pessoas com interesse de povoar não é correta, embora sobreviva o mito de uma colonização de povoamento. Grande parte da população foi composta por pessoas indesejáveis na metrópole. Com o crescimento demográfico acelerado a Inglaterra queria se desfazer de grande parte da sua população considerada “perigosa”. Puritanos rebeldes eram trazidos junto com camponeses sem-terra que perderam suas posses com as Leis do Cercamentos. O trabalho era garantido através de um sistema de servidão temporária, o camponês trabalharia por 5 anos para uma pessoa que lhe pagasse a viagem, mulheres também eram vendidas por seus pais para um colono que pudesse garantir seu sustento no novo continente.

            O Dia de Ação de Graças é uma marca da memória desse processo de colonização, o feriado consagra os estabelecimentos das colônias através dos peregrinos (calvinistas) que estavam a bordo do navio Mayflower considerados escolhidos por Deus para fundar uma sociedade de “eleitos”. A comemoração do feriado faz breve menção ao contato com os indígenas, porém sempre lembrando que a ideia de construção da nação reportava aos Anglo-saxões brancos e protestantes (WASP) que fundaram o país sob os preceitos bíblicos.

O vídeo acima mostra a Memória da Colonização através dos "escolhidos" do MayFlower.

            Portanto a educação religiosa protestante era parte integrante dessa nova vida no continente americano, por isso foram fundadas escolas que promoviam a alfabetização com objetivo de levar a todos a chance de ler as Escrituras, vejamos abaixo uma lei publicada em Massachussets no ano de 1647:

“Sendo um projeto do Velho Satanás manter os homens distantes do conhecimento das Escrituras, como em tempos antigos quando as tinham numa língua desconhecida [...] se decreta para tanto que toda municipalidade nesta jurisdição, depois que o senhor tenha aumentado sua cifra para cinqüenta famílias, dali em diante designará a um dentre seu povo para que ensine a todas as crianças que recorram a ele para ler e escrever, cujo salário será pago pelos pais, seja pelos amos dos meninos seja pelos habitantes em geral”[2]

               
                Muitos escravos também foram trazidos, principalmente para as colônias do Sul onde formaram maior parte da mão-de-obra. Porém a história da escravidão nos Estados Unidos, tanto no período das 13 colônias como no pós-independência, não pode ser contada em poucas linhas, pois se comportou diferente em tempos e locais distintos, aqui, faremos uma breve generalização para entender a economia colonial.

Economia nas Colônias

            A economia nas 13 colônias variava de formas diversas, porém aqui haverá uma generalização para que depois se entenda o processo que deu origem à Guerra de Secessão[3].
Sendo assim as principais diferenças econômicas entre colônias do Norte e do Sul podem ser colocadas como aponta a tabela abaixo:



Características Econômicas das 13 Colônias

Colônias do Norte
Colônias do Sul
Mão-de-Obra
Trabalhadores Livres Assalariados[4]
Escravos
Propriedades
Minifúndios/Policultura
Latifúndios/Monocultora[5]
Destino da Produção
Mercado Interno
Mercado Externo

           

            As colônias do Norte também se dedicavam ao mercado externo, e não é porque em seu território a escravidão não formava a maior parte da mão-de-obra que as colônias nortistas não utilizavam o tráfico negreiro ao seu favor, portanto grande parte dos escravos comprados na África, eram vendidos nas colônias do Caribe e nas Colônias do Sul, lá esses escravos eram trocados por melaço e dinheiro. O melaço ia para o Norte e era transformado em rum, essa bebida, somada com algumas armas e tecido eram levadas para África onde eram trocadas pelos escravos. Como essas expedições tinham três pontos de destino foi chamada de Comércio Triangular.

            As colônias do Norte possuíam sua independência política e econômica, e esse desprendimento com a Inglaterra, a partir da segunda metade do século XVIII as consequências da Guerra dos Sete Anos, começaram a pesar nas contas da coroa inglesa que somadas a essas liberdades fizeram com que as regras nas colônias se tornassem mais rígidas, porém um homem uma vez livre, não quer voltar à escravidão e os colonos lutarão por sua independência.
           
           

           






[1] Em seu livro História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI, o historiador Leandro Karnal aponta que as mesmas crenças que levaram portugueses e espanhóis a se lançarem aos mares, foi também as que levaram ingleses a fazer o mesmo, ou seja, as ideias baseadas no metalismo e na cristianização de civilizações nativas impulsionavam a busca por novos territórios.
[2] (in: KARNAL, 2007, p. 48)
[3] A expansão territorial do século XIX colocou em xeque o processo escravagista do Sul, portanto a questão não era abolir a escravidão onde ela já era enraizada, mas sim evitar que ela se espalhasse para os novos territórios conquistados.
[4] As colônias do norte também possuíam escravos, porém a ética calvinista sobre o trabalho não permitia que os colonos simplesmente abandonassem o trabalho para que alguém o executasse para ele, por isso a quantidade de escravos no Norte era pouca em relação ao Sul.
[5] Quando falamos sobre propriedades monocultoras, nos referimos a uma porção de terra cujo foco é a produção de um determinado gênero, porém isso não significa que outros gêneros não eram cultivados.

segunda-feira, 13 de março de 2017

Primeira Guerra Mundial – Parte 2 – Da Guerra à Paz?


 Introdução

            Na parte anterior, Primeira Guerra Mundial – Parte 1 – Antecedentes: a Paz Armada amedronta a Europa, nós vimos como cada potência colocou seus interesses frente aos do mundo para iniciar um conflito de proporções mundiais, notamos que fatores políticos internos também foram cruciais para o início de uma guerra que atingiu o mundo em escalas territoriais jamais vistas e imaginadas. Um conflito que poderia e, para os grandes chefes de Estado, deveria durar pouco tempo, demorou 5 anos para se concluir e seus resultados contraditórios levaram as potências mundiais a uma grande crise econômica e política. No entanto devemos nos perguntar: o que levou a esses desdobramentos? Quais foram as consequências mais duradouras da Primeira Guerra Mundial? E, por fim, como esses desdobramentos da Primeira Grande Guerra, não evitaram a Segunda Guerra Mundial?

A Guerra

            Para entendermos melhor a Primeira Grande Guerra é preciso entender que ela pode ser dividida em “fases” e “frentes”. As “fases” são os períodos em que a Guerra tomou determinado formato, e as “frentes” são os territórios onde essas fases ocorreram, sendo assim dividiremos a guerra em três fases: 1ª Guerra de movimento; 2ª Guerra de Trincheiras; e 3ª Guerra de Movimento; e em duas frentes a Ocidental e Oriental.

Frente Ocidental

            Foi na frente Ocidental que a Guerra ganhou suas características mais marcantes a ponto de conseguirmos dividir o conflito, nessa porção territorial nas fases citadas acima.

1ª Fase – Guerra de Movimento

            Enquanto o conflito ocorria nos Bálcãs a Alemanha tinha um plano para derrotar sua inimiga histórica: A França. A ideia que teria por finalidade destruir o principal inimigo dos germânicos na Europa ficou conhecida como Plano Schlieffen, de acordo com os estrategistas que já estavam formulando essa estratégia desde 1906, a Alemanha atacaria a França pela Bélgica e Holanda utilizando 90% de sua força dominando o norte até chegar ao Canal da Mancha, enquanto o restante ficaria responsável por manter suas fronteiras na porção oriental do país, evitando, principalmente uma possível invasão russa.

A ideia era atacar a França e derrotá-la rapidamente para enfrentar a Rússia na Frente Oriental, porém o Plano Schlieffen falhou.


            Porém com ajuda da Inglaterra, os franceses conseguiram segurar a Alemanha nas margens do Rio Marne em um embate que ficou conhecido como a 1ª Batalha do Marne, fato esse que fez com que a Guerra ficasse estagnada na porção ocidental iniciando a parte mais difícil e duradoura do conflito: A Guerra de Trincheiras.

2ª Fase – Guerra de Trincheiras

            A fase das trincheiras foi a mais marcante da guerra não só pelo impacto e pela violência causada pela estagnação, mas como também pelos novos rumos que o conflito tomou durante esse período. Durante um período de 3 anos, os europeus construíram 640 km de trincheiras, e lutavam para avançar quilômetro por quilômetro, sendo que em 1915 os Franceses avançaram sobre os domínios alemães apenas 15 km enquanto perderam 1 milhão de soldados.
            A fase em questão foi traumática, principalmente para os países que lutaram no front ocidental, e essa situação só ia mudar drasticamente no ano de 1917. Então, por enquanto, viajaremos para o outro lado da Guerra onde ela ainda se movimentava na Frente Oriental.

A trincheira era a casa do soldado, lá ele comia, dormia, guerreava e fazia suas necessidades, o período foi traumático principalmente para ingleses e franceses


Frente Oriental

            A Alemanha estava cercada pelos seus inimigos, ao Oeste enfrentava a França e a Inglaterra em uma guerra que deveria durar pouco tempo, mas agora estava estagnada, ao Leste deveria conter a Rússia, uma vez que suas tropas estavam sem movimento no front ocidental, agora a Alemanha, junto com o Império Austro-Húngaro poderia destinar suas forças a derrotar a Rússia, e ao sul agora teria que enfrentar a Itália que havia saído da Tríplice Aliança para lutar na Entente.
            Mas afinal, o que fez os italianos mudarem o seu rumo durante a guerra? Os livros sobre Primeira Guerra Mundial abordam pouco a participação da Itália na Guerra, o que se sabe até então, é que o povo da península itálica optou por mudar de lado após um acordo secreto conhecido como Tratado de Londres, o qual garantia a devolução de alguns territórios que foram perdidos pela Itália, durante sua guerra de unificação, para o Império Austro-Húngaro.
            A troca de lado dos ítalos rendeu um inimigo a mais para Alemanha que além de lutar contra os inimigos europeus também disputava territórios no Pacífico com o Japão, guerra essa na qual não se saia muito bem.
            Ainda no Oriente, a Guerra mostrou uma de sus facetas mais terríveis, até hoje uma marca negativa na História da Turquia: O Genocídio Armênio. Os impérios são normalmente grandes extensões territoriais que abarcam uma grande quantidade de povos com diferentes culturas, no século XIX as ideias de superioridade racial sustentavam as dominações imperialistas. No Império Turco-Otomano, predominavam as ideias do panturquismo, no entanto também viviam vários povos que não eram nem da mesma religião e nem da mesma etnia que os turcos, e entre os grupos mais hostis ao império estavam os cristãos armênios. Esse grupo, que hoje habita um país independente na região do Cáucaso, foi considerado como traidor pelo partido dos Jovens Turcos, o massacre deixou um saldo de 1,5 milhão de mortos, causando uma dispersão dos armênios pelo mundo. A atrocidade foi tão grande que até hoje a Turquia prefere não reconhecer o crime cometido.

O monumento em homenagem aos refugiados armênios foi inaugurado em 1966, na cidade de São Paulo no Bairro da Armênia, em vários lugares do mundo existem monumentos como esse, pois a perseguição turca não só causou mortes, mas também uma diáspora.

           
1917 – Um ano de mudanças.

            O ano de 1917 pode ser considerado um marco decisivo nos rumos que a Primeira Guerra Mundial tomou. Com a entrada e saída de Aliados na Tríplice Entente somado às inovações bélicas, o ano pode ser considerado a reta final desse conflito que na cabeça dos beligerantes não duraria mais que 6 meses, no entanto o conflito ainda demoraria mais um ano para cessar.
            Estados Unidos – desde o início o governo estadunidense se mostrou neutro no conflito, isso porque, durante a guerra, a futura potência estaria somente vendendo mantimentos para os países beligerantes. O que fez os EUA entrar na guerra, se afinal ela estava tão lucrativa? Essa pergunta se responde pela nova tática adotada pela Inglaterra e Alemanha, com a guerra estagnada por conta das trincheiras, alemães e ingleses resolveram, literalmente, matar seus inimigos de fome, ou seja, afundar os navios com suprimentos com a finalidade de acabar com o inimigo pela falta de alimentos que a população sofria, porém, como maior parte dessa alimentação vinha por navios estadunidenses, muitos desses foram afundados por submarinos[1] alemães, o que em 1917 tornou insustentável a relação pacífica entre EUA e Alemanha.

Cartaz estadunidense convoca homens para a frente de batalha na Primeira Guerra Mundial. Algumas propagandas também incentivavam a população a pagar o bônus de guerra que seria revertido ao exército.


            Rússia – em Outubro de 1917, a Rússia já está passando pela sua segunda fase da Revolução Russa[2], depois de 8 meses de processo revolucionário menchevique, os bolcheviques assumem o poder derrubando a minoria, a prioridade é deixar a guerra, no entanto, a saída russa não foi imediata e só iria se concretizar de fato em março de 1918 com o Tratado de Brest-Litovsk também conhecido como a “paz envergonhada”.
            A saída da Rússia, embora fosse uma perda para a Tríplice Entente, foi contrabalanceada pela entrada dos Estados Unidos, essas entradas e saídas somadas com as inovações tecnológicas fizeram a guerra voltar a se movimentar novamente.

3ª Fase – Guerra de Movimento

            Assim como vimos na primeira fase, o que vai trazer novamente a guerra ao movimento será a 2ª Batalha do Marne, porém agora os alemães não enfrentam somente as tropas inglesas e francesas, eles também têm os EUA como inimigos, uma luta desigual como essa faz com que a Alemanha recue cada vez mais até assinar sua rendição, no entanto vale considerar que os germânicos não perderam essa Guerra somente para as potências inimigas, mas também para problemas internos que começaram a surgir por conta de agitações políticas, inclusive sob influência da Revolução Russa[3], que exigiam o fim do governo de Guilherme II, e por consequência, o fim do Império Alemão.
            Para derrotar o Império Turco-Otomano a Entente priorizou os incentivos às independências locais, nesse caso vale ressaltar aqui o Tratado ou Declaração de Balfour, nessa carta escrita pelo secretário britânico de Assuntos Estrangeiros, Arthur James Balfour, a Inglaterra sustentava a ideia de criação de um Estado judaico, se houvesse cooperação para com as forças britânicas, posteriormente o documento seria anexado ao Tratado de Sèvres.

Declaração de Balfour, pelo documento os britânicos prometem aos judeus a criação de um Estado Nacional em território palestino, a ação só iria se concretizar em 1946.


            Fomentar movimentos separatistas também foi uma tática utilizada para derrotar o Império Austro-Húngaro. Porém, o que realmente enfraqueceu o império balcânico, foi o fato de a Alemanha assinar a rendição completa e o Tratado de Versalhes, os austro-húngaros se viram isolados, perdendo batalhas para a Itália e para as demais potências, a única solução foi se render, o que custaria também a desintegração do território imperial.
            Por fim em 11 de novembro de 1918, a potências beligerantes assinaram o Armistício de Compiègne, esse documento assinado dentro de um vagão de trem dava fim às hostilidades na frente ocidental, no entanto ainda era necessário aparar outras arestas deixadas pelo conflito, fazendo com que fossem assinados vários tratados que garantiriam a paz na Europa, ou não.

Desdobramentos

Tratados de Paz

Os “14 Pontos de Wilson”

            Com o objetivo de selar uma “paz sem vencidos nem vencedores”, o presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson propôs um tratado com 14 cláusulas que incentivavam principalmente o livre-comércio entre as nações, porém as nações que se consideraram vencedoras do conflito, não aceitaram as ideias alegando que essas fossem impraticáveis. Dentro das 14 propostas vale ressaltar o artigo 4º que priorizava a redução dos armamentos por país.
            Como os artigos de Wilson foram recusados, as potências beligerantes assinaram entre si vários acordos, dentre os quais iremos destacar 5.

1)      Tratado de Versalhes – assinado em 18/06/1919, esse acordo foi o mais importante desdobramento da Primeira Guerra Mundial, pois justamente seria o causador da Segunda Guerra Mundial, isso porque o tratado seria usado a favor das propagandas nazistas para demonstrar como a Alemanha fora traída, principalmente pelos social-democratas e judeus. Os principais artigos do Tratado são:

·        Art. 45 – determinava que a Alemanha cederia o território do Sarre, rico em minas de carvão, por um prazo de quinze anos à França.

·        Art. 51 – estabelecia que a Alsácia e a Lorena voltariam à posse dos franceses.

·        Art. 102 – determinava que a cidade de Dantzig era considerada cidade livre e administrada pela Liga das Nações.

·        Art.119 – determinava que todas as colônias alemãs passariam às mãos dos aliados.

·        Art. 160 – estabelecia a quantidade máxima de tropas que a Alemanha poderia manter. No geral, só poderia ter 100 mil soldados voluntários.

·        Art. 168 – qualquer fabricação de armamentos deveria ter a aprovação dos aliados.

·        Art. 198 – determinava que a Alemanha não poderia ter aviação nem marinha militar.

·        Art. 231 – estabelecia o reconhecimento da culpa dos alemães pela guerra e por todas as perdas e danos dos aliados.



            Após a rendição os rumos da política alemã mudaram, o império foi dissolvido, dando lugar a uma democracia que ficou conhecida como República de Weimar, porém essa novidade política não fora uma experiência das melhores e, de 1918 até 1945, a jovem Alemanha passaria pelas piores décadas de sua existência.

2)      Tratado de Saint-German - dissolveu o Império Austro-Húngaro, reconhecendo a independência da Hungria, da Tchecoslováquia e da Polônia; e criando a Iugoslávia. O acordo também devolveu as irridentas à Itália o que, somado às outras perdas territoriais reduziu a Áustria em um pequeno Estado sem saída para o mar.
3)      Tratado de Trianon – retirava 2/3 do território da Hungria, que foram distribuídos entre România e Croácia (parte da Iugoslávia) retirando a saída para o mar do país.
4)      Tratado de Nevilly – impôs restrições à Bulgária, retirou parte do seu território e obrigou o país a reduzir seus efetivos militares.
5)      Tratado de Sèvres – com anexo da Declaração de Balfour, o acordo impôs a desintegração do Império Turco-Otomano, com esse acordo parte da Turquia europeia foi anexada à Grécia; a Armênia se tornou um país independente; a Síria e o Líbano passaram ao controle francês; enquanto a Palestina e territórios da Antiga Mesopotâmia passaram a serem controlados pelos britânicos. A Turquia por sua vez, proclamou um governo modernizado se tornando a primeira república islâmica da História.
     
      Como podemos perceber, os tratados de paz desmembraram impérios inteiros da Europa até o Oriente Próximo, portanto podemos considerar que a Primeira Guerra Mundial foi o túmulo da chamada Era dos Impérios, e por isso o mapa político europeu fora mais uma vez alterado drasticamente.

Com o fim da Guerra os grandes impérios europeus foram dissolvidos e o mapa da Europa ganhou uma nova configuração


      Embora não tenha se envolvido diretamente em tratados de paz ao fim da Guerra, os Estados Unidos haviam aderido ao conflito de forma tardia, fazendo com que suas perdas fossem mínimas em comparação às demais potências beligerantes.

Liga das Nações

Para evitar novas guerras de proporções gigantescas 28 países, entre eles França e Inglaterra, se reuniram em um acordo que formou a Liga das Nações. No entanto, os EUA maior potência nascida da Grande Guerra e a Rússia, país que abarcava maior território do mundo, se recusaram a aderir à instituição, portanto a Liga não conseguiu cumprir seus objetivos. O fato dos japoneses[4] terem invadido a Manchúria (1931) e dos fascistas italianos terem anexado a Etiópia[5] (1935), são provas das falhas da Liga, a paz estava acordada, mas não estava selada, e as contradições da Primeira Guerra iriam explodir em menos de 20 anos.

Catedral de Rheims sob ataque, a Primeira Guerra Mundial deixou um saldo de 9 milhões de mortos; 20 milhões de mutilados e órfãos; e a maior parte das cidades europeias foram reduzidas a montes de pedras.





[1] De acordo com o historiador Eric Hobsbawn, a invenção mais utilizada na Primeira Guerra Mundial fora o submarino, pois esse garantia o êxito de que uma nação conseguiria derrotar a outra pela fome.
[2] O tema será melhor abordado em um capítulo específico sobre Revolução Russa.
[3] Vale ressaltar também que desde 1916 o país já passava por uma crise de abastecimento de alimentos, essa crise encontra seu auge em 1917 quando leite, manteiga e batatas, de tão escassos, passam a ser considerados artigos de luxo. RICHARD, Lionel. A República de Weimar - 1988 p.14
[4] O Japão, durante a Primeira Guerra, lutou contra os alemães por domínios no Oceano Pacífico e saiu como vitorioso, esses tentos fizeram o país se impor como potência regional, facilitando a tomada da Manchúria.
[5] Durante o século XIX a Itália se empenhou na conquista de territórios ultramarinos, no entanto ao tentar dominar a Etiópia (Abissínia), local da África que havia sido acordado na Conferência de Berlim, os italianos foram derrotados pelos etíopes, fazendo com que seu país se mantivesse independente e livre dentro de um continente dominado. Portanto a conquista da Etiópia não só era uma questão de honra para o nacionalistas fascistas como também fazia parte da conquista do seu spazio vitalle.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Primeira Guerra Mundial – Parte 1 – Antecedente: a Paz Armada amedronta a Europa

Introdução

            O conflito que, pela primeira vez na história, tomava proporções mundiais foi o berço de todas mudanças acorridas no século XX. Foram pelas contradições criadas pela Primeira Guerra que a Revolução Russa, República de Weimar, Nazifascismo e, claro, a Segunda Guerra Mundial ocorreram como ocorram, além disso, o conflito bélico de enormes proporções seria responsável em alterar a visão do europeu sobre ele mesmo sua ciência.
            Porém antes de chegarmos aos "finalmentes" precisamos entender o início desse conflito que deixou marcas sem precedentes na humanidade, assim propomos as seguintes perguntas: por que Guerra Mundial? Seria o tiro que matou o príncipe herdeiro do Império Austro-Húngaro a causa da Guerra? E, por fim, como os desdobramentos dessa guerra não selaram a paz no mundo e, pelo contrário, foram a origem da Segunda Guerra Mundial?

No Barril de Pólvora chamado Europa, quem vai acender o pavio?

            Desde 1871 a Europa não sabia o que era uma guerra[1]. Ao menos, não um conflito entre países do seu próprio continente. Afinal todos os interesses estavam voltados principalmente para as colônias ultramarinas que as principais potências europeias adquiriram durante o século XIX. No entanto, conforme uma nação ia aumentando suas áreas de influência outras mais jovens (Alemanha e Itália) galgavam um posto de potência colonial, principalmente perante a Inglaterra e a França.
            Pois bem, aqui já indicamos que havia uma disputa entre Alemanha e Itália com Inglaterra e França, pelo controle de maiores colônias na África e na Ásia, no entanto, lembremos que a Grande Guerra tem início nos Bálcãs através de uma disputa entre Império Austro-Húngaro e Rússia, assim, devemos nos perguntar: Por quê então essa guerra se iniciou? E principalmente, qual a relação entre as disputas das potências do Norte e Oeste da Europa com as disputas entre os países do Sul e do Leste pelo controle dos Bálcãs?

Política das Alianças

Tríplice Aliança (1882)
           
            A Tríplice Aliança foi formada 32 anos da eclosão da Primeira Guerra Mundial e era formada inicialmente por: Alemanha, Itália, Império Austro-Húngaro e Império Turco-Otomano[2]. Essa aliança, organizada pela Alemanha, tinha como objetivo evitar o isolamento do país que havia se unificado em 1871. No entanto a adesão dos outros países tem relação direta com a disputa por territórios que garantiu a eclosão da Grande Guerra.

     Alemanha – chamada pelos alemães de Weltpolitik, a estratégia criada pelo Kaiser Guilherme II, tinha como objetivo: realizar uma nova divisão colonial pressionando as potências europeias e isolar a França. Essa política tinha base principalmente as propagandas militaristas e um reforço das ideias de superioridade racial e cultural (kultur) conhecidas como pangermanismo.


     Áustria-Hungria – anexar as micro-nações dos Bálcãs era uma ambição desse Império, porém essa intenção esbarrava nos interesses dos czares russos pela região.


     Itália – unificado em 1870, o país possuía uma disputa territorial histórica com o Império dos Habsburgo (Áustria-Hungria), pois durante a unificação perdera alguns territórios (irridentas), porém o acordo foi assinado com a finalidade de garantir sua expansão colonial e a defesa que fora proporcionada pelo Império Alemão.

      Império Turco-Otomano ao perder territórios nos Bálcãs para a Grécia, Bulgária e Sérvia, o império enfraquecido buscou uma aliança com a Alemanha que já havia se estabelecido comercialmente não território turco.

Tríplice Entente (1907)

µ     Entente Cordiale (1904) – o “entendimento cordial” foi uma aliança formada em 1904 quando os franceses deixaram de reivindicar o Egito em troca de apoio para dominar o Marrocos.

µ     Tríplice Entente (1907) – o enfraquecimento do Império Russo após uma derrota contra o Japão e uma tentativa de Revolução em 1905, mostraram para a os britânicos que a Alemanha era a força militar dominante e deveria ser observada com cautela.

Nos tópicos acima vimos os interesses individuais de cada potência em se aliar, porém é preciso saber como as vontades individuais de cada nação iam de encontro com os objetivos de outra, o que fez com que em 1914 a guerra fosse inevitável.

Potência versus Potência

°     Inglaterra e Alemanha – disputavam a hegemonia econômica e militar do globo.


°     Alemanha e França – inimigos históricos, além de disputarem em outras guerras, como a Franco-prussiana territórios fronteiriços (Alsáscea e Lorena), também tinham interesse em territórios ultramarinos em comum.

°     Império Austro-Húngaro e Império Russo – objetivavam o domínio dos países balcânicos que eram essencialmente eslavos. Essas disputas também possuíam aspectos culturais, de acordo com a ideia pan-eslavista, cabia à Mãe Rússia defender as micro nações eslavas dos Bálcãs, porém a principal intenção era aproveitar o enfraquecimento do Império Otomano e dominar o estreito de Bósforo e de Dardanelos.

O Estreito de Bósforo e o de Dardanelos formam uma das fronteiras entre Europa e Ásia e pertenciam ao Império Turco-Otomano, o domínio desses estreitos, significa o controle sobre todas as mercadorias que saem do Mar Negro para o Mediterrâneo.

°     Alemanha e Rússia – o país germânico queria implementar uma estrada de ferro Berlim-Bagdá, por isso era importante que as nações balcânicas estivessem sob controle dos aliados.

As nações europeias já possuíam seus motivos e suas disputas pessoais que davam sustentação à formação das alianças. Por um motivo ligado à dominação de territórios e utilizando a defesa da soberania nacional como álibi, as potências europeias deram início à corrida armamentista que ficou conhecida como Paz Armada.

Paz Armada (1871 – 1914)

            Um dos principais fatores que alarmou o cenário internacional nas últimas décadas do século XIX e início do século XX foi o crescimento da indústria bélica nas principais potências europeias.
            A Companhia Krupp da Alemanha empregava 16.000 funcionários em 1873, já em 1912 a Companhia empregava 70.000 pessoas com uma venda anual recorde de 70.000 armas. No entanto, embora fosse a segunda maior potência militar as vésperas da guerra, não só a Alemanha estava se armando. Confira as tabelas abaixo retiradas do livro “Era dos Impérios” de Eric Hobsbawn.





Causas da Guerra

            Como vimos os países possuíam vários motivos externos para entrar em conflito com os seus vizinhos europeus, mesmo que o álibi fosse a defesa, a quantidade de armamentos produzidos e a de exércitos mobilizados, mostrava que os países estavam, a qualquer momento, prontos para o conflito mesmo que o desejo não fosse esse, vejamos o trecho:

      “Nem aqueles que estavam apertando os botões da destruição nela (na guerra) acreditavam, não porque não quisessem, mas porque era independente de sua vontade”[3]

            Porém o que levou à Guerra de fato não foram os motivos externos isolados, afinal em 1911, Alemanha e França se viram diante de um conflito que poderia ter estourado um conflito de gigantescas proporções: a Crise de Agadir. Esse episódio ocorreu após o enfraquecimento do Império Russo, esse acontecimento, encorajou os germânicos a posicionarem no porto de Agadir (Marrocos), porém foram vencidos pelas tropas francesas e a Inglaterra não interveio a favor de sua aliada, evitando um conflito de maiores proporções.

            À medida que os anos se passaram e foi se aproximando o ano de 1914, problemas internos de vários tipos foram ocorrendo nos principais países envolvidos na guerra. A Alemanha sofria com levantes de trabalhadores e com uma intensa polarização política, e um êxito externo poderia restabelecer a ordem. A Rússia também sofria com efeitos da Revolução de 1905, e corria perigo de uma Revolução Social que derrubasse, no mínimo, os poderes do czar. Por fim, a Áustria-Hungria necessitava conter as agitações pluri-étnicas, pois os problemas com os eslavos poderiam levar à desintegração do Império, e a Liga Balcânica já havia derrotado o Império Otomano entre 1912 e 1913.

            Portanto, em um primeiro momento já podemos afirmar que a causa da Guerra não foi o tiro que assassinou ou arquiduque Francisco Ferdinando, esse foi apenas o estopim de um conflito que assombrava há anos a Europa, só faltava uma centelha para acender o pavio, ou seja, bastava que entre o conflito de duas potências que pertencessem a qualquer aliança sofresse intervenção de um terceiro, pois esse movimento, geraria uma série de ataques que culminassem na Primeira Guerra Mundial.
            Foi no dia 28 de junho de 1914 que, o membro do grupo separatista sérvio Mão Negra, Gavrilo Princip disparou o tiro que levaria ao óbito o herdeiro do Império Austro- Húngaro, Francisco Ferdinando. O incidente foi o suficiente para que o a ideia de uma “lição na Sérvia” mobilizasse as forças para a região dos Bálcãs, porém a Rússia saiu em defesa da nação balcânica, no entanto o que ninguém esperava era que a Alemanha partisse em defesa de seu Império Aliado, estava deflagrada a Primeira Guerra Mundial, e nada mais podia impedi-la. A única esperança seria que o movimento pacifista desse conta de boicotar a guerra, mas as massas aderiram[4]. Em Agosto, menos de dois meses, todos os países das Alianças já estavam em Guerra, um conflito que nem o mais pessimista imaginava que fosse durar 5 anos.

Ao descer a escadaria da Câmara Municipal de Sarajevo, o Arquiduque  Francisco Ferdinando não imaginava que ia ser assassinado, e muito menos que ali iria começar Primeira Guerra Mundial.

            No entanto ainda restam algumas perguntas sem resposta: quais foram os desfechos dessa guerra para as potências envolvidas? Os impérios sobreviveram a esse conflito? Como as potências se organizaram para evitar um conflito posterior? Essas respostas veremos em: Primeira Guerra Mundial – Parte 2 – Da Guerra à Paz?

           












[1] HOBSBAWN – 2006 p.420
[2] Uma pesquisa mais minuciosa em várias outras fontes é possível encontrar mais países que aderiram às duas alianças que deram origem à guerra, no entanto, nos restringiremos somente aos que disponibilizaram mais soldados e que sofreram mais danos.
[3] HOBSBAWN 2006 p. 420
[4] Em seu livro Tacão de Ferro, de 1905, Jack London sugere que o movimento operário organizado daria conta de evitar um conflito de proporções mundiais, porém a sugestão literária do escritor não passou das folhas de sua obra.