quarta-feira, 29 de março de 2017

Estados Unidos – Da Colonização à Independência – Parte 1 – A Colonização: peregrinos, sem terra, negros e índios na fundação das 13 colônias.


Introdução

            A formação dos Estados Unidos contou com um projeto não muito diferenciado da formação de maior parte dos países do continente americano[1], portanto a consolidação da independência das 13 colônias inglesas do norte contou com a uma unificação territorial de modelos díspares, porém que se uniram em torno de um mesmo ideal: o fim dos laços com a metrópole. Para dar conta de seu projeto de país livre. As 13 colônias lutaram pela sua liberdade, no entanto o fim da repressão inglesa contra os seus colonos, não representou necessariamente uma igualdade e democracia para todos os habitantes. Em julho de 1776 o nascimento da nação ocorria sob a luz das ideias iluministas, do protestantismo, da escravidão, do genocídio indígena e exclusão das mulheres.
            Porém até chegarmos ao processo de separação, precisamos entender sobre quais bases essas colônias se formaram e aqui, no presente texto, abordaremos questões específicas como: O que motivou a Inglaterra a se lançar ao mar em um projeto de colonização? Quais foram os grupos que habitaram essas treze colônias? E como foram resolvidos, ou enfrentados, os problemas multissociais, culturais e religiosos desse processo?

As Treze Colônias
           
            A colonização da parte norte do continente americano não foi uma tarefa simples, enquanto em 1600 os portugueses e espanhóis já haviam se estabelecido como potências ultramarinas, a Inglaterra ainda trilhava seu caminho colonizador. Durante o século XVI, a rainha Elizabeth I concedeu a sir Walter Raleight o direito de exploração das terras que descobrisse. No entanto o projeto fracassou por conta de ataques indígenas, fome e doenças, assim como relatou o líder de uma expedição que veio para reforçar a colonização. Portanto o projeto ia renascer no século XVII.
            Agora a coroa inglesa designaria a colonização a companhias como a de Londres colonizaria o norte da região enquanto a de Plymouth ficava com a parte sul, essas empresas tinham objetivo de povoar e explorar a região. Em pouco tempo as duas empresas haviam falido por conta das dívidas com a metrópole. Porém o impulso já estava dado e, no período entre 1607 e 1638, doze das treze colônias já estavam estabelecidas, e o povoamento seria garantido por alguns acontecimentos em território inglês que forneceram contingente humano, como:

  • Conflitos entre protestantes e anglicanos.           
  • Os cercamentos (enclousures).

            A ideia de que as pessoas enviadas para as terras norte americanas eram somente pessoas com interesse de povoar não é correta, embora sobreviva o mito de uma colonização de povoamento. Grande parte da população foi composta por pessoas indesejáveis na metrópole. Com o crescimento demográfico acelerado a Inglaterra queria se desfazer de grande parte da sua população considerada “perigosa”. Puritanos rebeldes eram trazidos junto com camponeses sem-terra que perderam suas posses com as Leis do Cercamentos. O trabalho era garantido através de um sistema de servidão temporária, o camponês trabalharia por 5 anos para uma pessoa que lhe pagasse a viagem, mulheres também eram vendidas por seus pais para um colono que pudesse garantir seu sustento no novo continente.

            O Dia de Ação de Graças é uma marca da memória desse processo de colonização, o feriado consagra os estabelecimentos das colônias através dos peregrinos (calvinistas) que estavam a bordo do navio Mayflower considerados escolhidos por Deus para fundar uma sociedade de “eleitos”. A comemoração do feriado faz breve menção ao contato com os indígenas, porém sempre lembrando que a ideia de construção da nação reportava aos Anglo-saxões brancos e protestantes (WASP) que fundaram o país sob os preceitos bíblicos.

O vídeo acima mostra a Memória da Colonização através dos "escolhidos" do MayFlower.

            Portanto a educação religiosa protestante era parte integrante dessa nova vida no continente americano, por isso foram fundadas escolas que promoviam a alfabetização com objetivo de levar a todos a chance de ler as Escrituras, vejamos abaixo uma lei publicada em Massachussets no ano de 1647:

“Sendo um projeto do Velho Satanás manter os homens distantes do conhecimento das Escrituras, como em tempos antigos quando as tinham numa língua desconhecida [...] se decreta para tanto que toda municipalidade nesta jurisdição, depois que o senhor tenha aumentado sua cifra para cinqüenta famílias, dali em diante designará a um dentre seu povo para que ensine a todas as crianças que recorram a ele para ler e escrever, cujo salário será pago pelos pais, seja pelos amos dos meninos seja pelos habitantes em geral”[2]

               
                Muitos escravos também foram trazidos, principalmente para as colônias do Sul onde formaram maior parte da mão-de-obra. Porém a história da escravidão nos Estados Unidos, tanto no período das 13 colônias como no pós-independência, não pode ser contada em poucas linhas, pois se comportou diferente em tempos e locais distintos, aqui, faremos uma breve generalização para entender a economia colonial.

Economia nas Colônias

            A economia nas 13 colônias variava de formas diversas, porém aqui haverá uma generalização para que depois se entenda o processo que deu origem à Guerra de Secessão[3].
Sendo assim as principais diferenças econômicas entre colônias do Norte e do Sul podem ser colocadas como aponta a tabela abaixo:



Características Econômicas das 13 Colônias

Colônias do Norte
Colônias do Sul
Mão-de-Obra
Trabalhadores Livres Assalariados[4]
Escravos
Propriedades
Minifúndios/Policultura
Latifúndios/Monocultora[5]
Destino da Produção
Mercado Interno
Mercado Externo

           

            As colônias do Norte também se dedicavam ao mercado externo, e não é porque em seu território a escravidão não formava a maior parte da mão-de-obra que as colônias nortistas não utilizavam o tráfico negreiro ao seu favor, portanto grande parte dos escravos comprados na África, eram vendidos nas colônias do Caribe e nas Colônias do Sul, lá esses escravos eram trocados por melaço e dinheiro. O melaço ia para o Norte e era transformado em rum, essa bebida, somada com algumas armas e tecido eram levadas para África onde eram trocadas pelos escravos. Como essas expedições tinham três pontos de destino foi chamada de Comércio Triangular.

            As colônias do Norte possuíam sua independência política e econômica, e esse desprendimento com a Inglaterra, a partir da segunda metade do século XVIII as consequências da Guerra dos Sete Anos, começaram a pesar nas contas da coroa inglesa que somadas a essas liberdades fizeram com que as regras nas colônias se tornassem mais rígidas, porém um homem uma vez livre, não quer voltar à escravidão e os colonos lutarão por sua independência.
           
           

           






[1] Em seu livro História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI, o historiador Leandro Karnal aponta que as mesmas crenças que levaram portugueses e espanhóis a se lançarem aos mares, foi também as que levaram ingleses a fazer o mesmo, ou seja, as ideias baseadas no metalismo e na cristianização de civilizações nativas impulsionavam a busca por novos territórios.
[2] (in: KARNAL, 2007, p. 48)
[3] A expansão territorial do século XIX colocou em xeque o processo escravagista do Sul, portanto a questão não era abolir a escravidão onde ela já era enraizada, mas sim evitar que ela se espalhasse para os novos territórios conquistados.
[4] As colônias do norte também possuíam escravos, porém a ética calvinista sobre o trabalho não permitia que os colonos simplesmente abandonassem o trabalho para que alguém o executasse para ele, por isso a quantidade de escravos no Norte era pouca em relação ao Sul.
[5] Quando falamos sobre propriedades monocultoras, nos referimos a uma porção de terra cujo foco é a produção de um determinado gênero, porém isso não significa que outros gêneros não eram cultivados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário