segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Primeira Guerra Mundial – Parte 1 – Antecedente: a Paz Armada amedronta a Europa

Introdução

            O conflito que, pela primeira vez na história, tomava proporções mundiais foi o berço de todas mudanças acorridas no século XX. Foram pelas contradições criadas pela Primeira Guerra que a Revolução Russa, República de Weimar, Nazifascismo e, claro, a Segunda Guerra Mundial ocorreram como ocorram, além disso, o conflito bélico de enormes proporções seria responsável em alterar a visão do europeu sobre ele mesmo sua ciência.
            Porém antes de chegarmos aos "finalmentes" precisamos entender o início desse conflito que deixou marcas sem precedentes na humanidade, assim propomos as seguintes perguntas: por que Guerra Mundial? Seria o tiro que matou o príncipe herdeiro do Império Austro-Húngaro a causa da Guerra? E, por fim, como os desdobramentos dessa guerra não selaram a paz no mundo e, pelo contrário, foram a origem da Segunda Guerra Mundial?

No Barril de Pólvora chamado Europa, quem vai acender o pavio?

            Desde 1871 a Europa não sabia o que era uma guerra[1]. Ao menos, não um conflito entre países do seu próprio continente. Afinal todos os interesses estavam voltados principalmente para as colônias ultramarinas que as principais potências europeias adquiriram durante o século XIX. No entanto, conforme uma nação ia aumentando suas áreas de influência outras mais jovens (Alemanha e Itália) galgavam um posto de potência colonial, principalmente perante a Inglaterra e a França.
            Pois bem, aqui já indicamos que havia uma disputa entre Alemanha e Itália com Inglaterra e França, pelo controle de maiores colônias na África e na Ásia, no entanto, lembremos que a Grande Guerra tem início nos Bálcãs através de uma disputa entre Império Austro-Húngaro e Rússia, assim, devemos nos perguntar: Por quê então essa guerra se iniciou? E principalmente, qual a relação entre as disputas das potências do Norte e Oeste da Europa com as disputas entre os países do Sul e do Leste pelo controle dos Bálcãs?

Política das Alianças

Tríplice Aliança (1882)
           
            A Tríplice Aliança foi formada 32 anos da eclosão da Primeira Guerra Mundial e era formada inicialmente por: Alemanha, Itália, Império Austro-Húngaro e Império Turco-Otomano[2]. Essa aliança, organizada pela Alemanha, tinha como objetivo evitar o isolamento do país que havia se unificado em 1871. No entanto a adesão dos outros países tem relação direta com a disputa por territórios que garantiu a eclosão da Grande Guerra.

     Alemanha – chamada pelos alemães de Weltpolitik, a estratégia criada pelo Kaiser Guilherme II, tinha como objetivo: realizar uma nova divisão colonial pressionando as potências europeias e isolar a França. Essa política tinha base principalmente as propagandas militaristas e um reforço das ideias de superioridade racial e cultural (kultur) conhecidas como pangermanismo.


     Áustria-Hungria – anexar as micro-nações dos Bálcãs era uma ambição desse Império, porém essa intenção esbarrava nos interesses dos czares russos pela região.


     Itália – unificado em 1870, o país possuía uma disputa territorial histórica com o Império dos Habsburgo (Áustria-Hungria), pois durante a unificação perdera alguns territórios (irridentas), porém o acordo foi assinado com a finalidade de garantir sua expansão colonial e a defesa que fora proporcionada pelo Império Alemão.

      Império Turco-Otomano ao perder territórios nos Bálcãs para a Grécia, Bulgária e Sérvia, o império enfraquecido buscou uma aliança com a Alemanha que já havia se estabelecido comercialmente não território turco.

Tríplice Entente (1907)

µ     Entente Cordiale (1904) – o “entendimento cordial” foi uma aliança formada em 1904 quando os franceses deixaram de reivindicar o Egito em troca de apoio para dominar o Marrocos.

µ     Tríplice Entente (1907) – o enfraquecimento do Império Russo após uma derrota contra o Japão e uma tentativa de Revolução em 1905, mostraram para a os britânicos que a Alemanha era a força militar dominante e deveria ser observada com cautela.

Nos tópicos acima vimos os interesses individuais de cada potência em se aliar, porém é preciso saber como as vontades individuais de cada nação iam de encontro com os objetivos de outra, o que fez com que em 1914 a guerra fosse inevitável.

Potência versus Potência

°     Inglaterra e Alemanha – disputavam a hegemonia econômica e militar do globo.


°     Alemanha e França – inimigos históricos, além de disputarem em outras guerras, como a Franco-prussiana territórios fronteiriços (Alsáscea e Lorena), também tinham interesse em territórios ultramarinos em comum.

°     Império Austro-Húngaro e Império Russo – objetivavam o domínio dos países balcânicos que eram essencialmente eslavos. Essas disputas também possuíam aspectos culturais, de acordo com a ideia pan-eslavista, cabia à Mãe Rússia defender as micro nações eslavas dos Bálcãs, porém a principal intenção era aproveitar o enfraquecimento do Império Otomano e dominar o estreito de Bósforo e de Dardanelos.

O Estreito de Bósforo e o de Dardanelos formam uma das fronteiras entre Europa e Ásia e pertenciam ao Império Turco-Otomano, o domínio desses estreitos, significa o controle sobre todas as mercadorias que saem do Mar Negro para o Mediterrâneo.

°     Alemanha e Rússia – o país germânico queria implementar uma estrada de ferro Berlim-Bagdá, por isso era importante que as nações balcânicas estivessem sob controle dos aliados.

As nações europeias já possuíam seus motivos e suas disputas pessoais que davam sustentação à formação das alianças. Por um motivo ligado à dominação de territórios e utilizando a defesa da soberania nacional como álibi, as potências europeias deram início à corrida armamentista que ficou conhecida como Paz Armada.

Paz Armada (1871 – 1914)

            Um dos principais fatores que alarmou o cenário internacional nas últimas décadas do século XIX e início do século XX foi o crescimento da indústria bélica nas principais potências europeias.
            A Companhia Krupp da Alemanha empregava 16.000 funcionários em 1873, já em 1912 a Companhia empregava 70.000 pessoas com uma venda anual recorde de 70.000 armas. No entanto, embora fosse a segunda maior potência militar as vésperas da guerra, não só a Alemanha estava se armando. Confira as tabelas abaixo retiradas do livro “Era dos Impérios” de Eric Hobsbawn.





Causas da Guerra

            Como vimos os países possuíam vários motivos externos para entrar em conflito com os seus vizinhos europeus, mesmo que o álibi fosse a defesa, a quantidade de armamentos produzidos e a de exércitos mobilizados, mostrava que os países estavam, a qualquer momento, prontos para o conflito mesmo que o desejo não fosse esse, vejamos o trecho:

      “Nem aqueles que estavam apertando os botões da destruição nela (na guerra) acreditavam, não porque não quisessem, mas porque era independente de sua vontade”[3]

            Porém o que levou à Guerra de fato não foram os motivos externos isolados, afinal em 1911, Alemanha e França se viram diante de um conflito que poderia ter estourado um conflito de gigantescas proporções: a Crise de Agadir. Esse episódio ocorreu após o enfraquecimento do Império Russo, esse acontecimento, encorajou os germânicos a posicionarem no porto de Agadir (Marrocos), porém foram vencidos pelas tropas francesas e a Inglaterra não interveio a favor de sua aliada, evitando um conflito de maiores proporções.

            À medida que os anos se passaram e foi se aproximando o ano de 1914, problemas internos de vários tipos foram ocorrendo nos principais países envolvidos na guerra. A Alemanha sofria com levantes de trabalhadores e com uma intensa polarização política, e um êxito externo poderia restabelecer a ordem. A Rússia também sofria com efeitos da Revolução de 1905, e corria perigo de uma Revolução Social que derrubasse, no mínimo, os poderes do czar. Por fim, a Áustria-Hungria necessitava conter as agitações pluri-étnicas, pois os problemas com os eslavos poderiam levar à desintegração do Império, e a Liga Balcânica já havia derrotado o Império Otomano entre 1912 e 1913.

            Portanto, em um primeiro momento já podemos afirmar que a causa da Guerra não foi o tiro que assassinou ou arquiduque Francisco Ferdinando, esse foi apenas o estopim de um conflito que assombrava há anos a Europa, só faltava uma centelha para acender o pavio, ou seja, bastava que entre o conflito de duas potências que pertencessem a qualquer aliança sofresse intervenção de um terceiro, pois esse movimento, geraria uma série de ataques que culminassem na Primeira Guerra Mundial.
            Foi no dia 28 de junho de 1914 que, o membro do grupo separatista sérvio Mão Negra, Gavrilo Princip disparou o tiro que levaria ao óbito o herdeiro do Império Austro- Húngaro, Francisco Ferdinando. O incidente foi o suficiente para que o a ideia de uma “lição na Sérvia” mobilizasse as forças para a região dos Bálcãs, porém a Rússia saiu em defesa da nação balcânica, no entanto o que ninguém esperava era que a Alemanha partisse em defesa de seu Império Aliado, estava deflagrada a Primeira Guerra Mundial, e nada mais podia impedi-la. A única esperança seria que o movimento pacifista desse conta de boicotar a guerra, mas as massas aderiram[4]. Em Agosto, menos de dois meses, todos os países das Alianças já estavam em Guerra, um conflito que nem o mais pessimista imaginava que fosse durar 5 anos.

Ao descer a escadaria da Câmara Municipal de Sarajevo, o Arquiduque  Francisco Ferdinando não imaginava que ia ser assassinado, e muito menos que ali iria começar Primeira Guerra Mundial.

            No entanto ainda restam algumas perguntas sem resposta: quais foram os desfechos dessa guerra para as potências envolvidas? Os impérios sobreviveram a esse conflito? Como as potências se organizaram para evitar um conflito posterior? Essas respostas veremos em: Primeira Guerra Mundial – Parte 2 – Da Guerra à Paz?

           












[1] HOBSBAWN – 2006 p.420
[2] Uma pesquisa mais minuciosa em várias outras fontes é possível encontrar mais países que aderiram às duas alianças que deram origem à guerra, no entanto, nos restringiremos somente aos que disponibilizaram mais soldados e que sofreram mais danos.
[3] HOBSBAWN 2006 p. 420
[4] Em seu livro Tacão de Ferro, de 1905, Jack London sugere que o movimento operário organizado daria conta de evitar um conflito de proporções mundiais, porém a sugestão literária do escritor não passou das folhas de sua obra.

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