Introdução
A formação dos Estados Unidos contou
com um projeto não muito diferenciado da formação de maior parte dos países do
continente americano[1],
portanto a consolidação da independência das 13 colônias inglesas do norte
contou com a uma unificação territorial de modelos díspares, porém que se uniram
em torno de um mesmo ideal: o fim dos laços com a metrópole. Para dar conta de
seu projeto de país livre. As 13 colônias lutaram pela sua liberdade, no
entanto o fim da repressão inglesa contra os seus colonos, não representou
necessariamente uma igualdade e democracia para todos os habitantes. Em julho
de 1776 o nascimento da nação ocorria sob a luz das ideias iluministas, do
protestantismo, da escravidão, do genocídio indígena e exclusão das mulheres.
Porém até chegarmos ao processo de
separação, precisamos entender sobre quais bases essas colônias se formaram e
aqui, no presente texto, abordaremos questões específicas como: O que motivou a
Inglaterra a se lançar ao mar em um projeto de colonização? Quais foram os
grupos que habitaram essas treze colônias? E como foram resolvidos, ou
enfrentados, os problemas multissociais, culturais e religiosos desse processo?
As
Treze Colônias
A colonização da parte norte do
continente americano não foi uma tarefa simples, enquanto em 1600 os
portugueses e espanhóis já haviam se estabelecido como potências ultramarinas,
a Inglaterra ainda trilhava seu caminho colonizador. Durante o século XVI, a
rainha Elizabeth I concedeu a sir Walter Raleight o direito de
exploração das terras que descobrisse. No entanto o projeto fracassou por conta
de ataques indígenas, fome e doenças, assim como relatou o líder de uma
expedição que veio para reforçar a colonização. Portanto o projeto ia renascer
no século XVII.
Agora a coroa inglesa designaria a
colonização a companhias como a de Londres colonizaria o norte da região
enquanto a de Plymouth ficava com a parte sul, essas empresas tinham objetivo
de povoar e explorar a região. Em pouco tempo as duas empresas haviam falido
por conta das dívidas com a metrópole. Porém o impulso já estava dado e, no
período entre 1607 e 1638, doze das treze colônias já estavam estabelecidas, e
o povoamento seria garantido por alguns acontecimentos em território inglês que
forneceram contingente humano, como:
- Conflitos entre protestantes e anglicanos.
- Os cercamentos (enclousures).
A ideia de que as pessoas enviadas
para as terras norte americanas eram somente pessoas com interesse de povoar
não é correta, embora sobreviva o mito de uma colonização de povoamento. Grande
parte da população foi composta por pessoas indesejáveis na metrópole. Com o
crescimento demográfico acelerado a Inglaterra queria se desfazer de grande
parte da sua população considerada “perigosa”. Puritanos rebeldes eram trazidos
junto com camponeses sem-terra que perderam suas posses com as Leis do
Cercamentos. O trabalho era garantido através de um sistema de servidão
temporária, o camponês trabalharia por 5 anos para uma pessoa que lhe pagasse a
viagem, mulheres também eram vendidas por seus pais para um colono que pudesse
garantir seu sustento no novo continente.
O Dia de Ação de Graças é uma
marca da memória desse processo de colonização, o feriado consagra os
estabelecimentos das colônias através dos peregrinos (calvinistas) que estavam a
bordo do navio Mayflower considerados escolhidos por Deus para fundar
uma sociedade de “eleitos”. A comemoração do feriado faz breve menção ao
contato com os indígenas, porém sempre lembrando que a ideia de construção da
nação reportava aos Anglo-saxões brancos e protestantes (WASP) que fundaram o
país sob os preceitos bíblicos.
O vídeo acima mostra a Memória da Colonização através dos "escolhidos" do MayFlower.
Portanto a educação religiosa
protestante era parte integrante dessa nova vida no continente americano, por
isso foram fundadas escolas que promoviam a alfabetização com objetivo de levar
a todos a chance de ler as Escrituras, vejamos abaixo uma lei publicada em
Massachussets no ano de 1647:
“Sendo um projeto do Velho
Satanás manter os homens distantes do conhecimento das Escrituras, como em
tempos antigos quando as tinham numa língua desconhecida [...] se decreta para
tanto que toda municipalidade nesta jurisdição, depois que o senhor tenha aumentado
sua cifra para cinqüenta famílias, dali em diante designará a um dentre seu
povo para que ensine a todas as crianças que recorram a ele para ler e
escrever, cujo salário será pago pelos pais, seja pelos amos dos meninos seja
pelos habitantes em geral”[2]
Muitos
escravos também foram trazidos, principalmente para as colônias do Sul onde
formaram maior parte da mão-de-obra. Porém a história da escravidão nos Estados
Unidos, tanto no período das 13 colônias como no pós-independência, não pode
ser contada em poucas linhas, pois se comportou diferente em tempos e locais
distintos, aqui, faremos uma breve generalização para entender a economia
colonial.
Economia
nas Colônias
A economia nas 13 colônias variava
de formas diversas, porém aqui haverá uma generalização para que depois se
entenda o processo que deu origem à Guerra de Secessão[3].
Sendo
assim as principais diferenças econômicas entre colônias do Norte e do Sul
podem ser colocadas como aponta a tabela abaixo:
Características Econômicas das 13 Colônias
|
||
|
Colônias do Norte
|
Colônias do Sul
|
Mão-de-Obra
|
Trabalhadores Livres Assalariados[4]
|
Escravos
|
Propriedades
|
Minifúndios/Policultura
|
Latifúndios/Monocultora[5]
|
Destino da Produção
|
Mercado Interno
|
Mercado Externo
|
As colônias do Norte também se
dedicavam ao mercado externo, e não é porque em seu território a escravidão não
formava a maior parte da mão-de-obra que as colônias nortistas não utilizavam o
tráfico negreiro ao seu favor, portanto grande parte dos escravos comprados na África,
eram vendidos nas colônias do Caribe e nas Colônias do Sul, lá esses escravos
eram trocados por melaço e dinheiro. O melaço ia para o Norte e era
transformado em rum, essa bebida, somada com algumas armas e tecido eram
levadas para África onde eram trocadas pelos escravos. Como essas expedições
tinham três pontos de destino foi chamada de Comércio Triangular.
As colônias do Norte possuíam sua
independência política e econômica, e esse desprendimento com a Inglaterra, a
partir da segunda metade do século XVIII as consequências da Guerra dos Sete
Anos, começaram a pesar nas contas da coroa inglesa que somadas a essas
liberdades fizeram com que as regras nas colônias se tornassem mais rígidas,
porém um homem uma vez livre, não quer voltar à escravidão e os colonos lutarão
por sua independência.
[1] Em
seu livro História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI, o
historiador Leandro Karnal aponta que as mesmas crenças que levaram portugueses
e espanhóis a se lançarem aos mares, foi também as que levaram ingleses a fazer
o mesmo, ou seja, as ideias baseadas no metalismo e na cristianização de
civilizações nativas impulsionavam a busca por novos territórios.
[2] (in: KARNAL, 2007, p. 48)
[3] A
expansão territorial do século XIX colocou em xeque o processo escravagista do
Sul, portanto a questão não era abolir a escravidão onde ela já era enraizada,
mas sim evitar que ela se espalhasse para os novos territórios conquistados.
[4] As
colônias do norte também possuíam escravos, porém a ética calvinista sobre o
trabalho não permitia que os colonos simplesmente abandonassem o trabalho para
que alguém o executasse para ele, por isso a quantidade de escravos no Norte
era pouca em relação ao Sul.
[5]
Quando falamos sobre propriedades monocultoras, nos referimos a uma porção de
terra cujo foco é a produção de um determinado gênero, porém isso não significa
que outros gêneros não eram cultivados.