Introdução
O
conflito que, pela primeira vez na história, tomava proporções mundiais foi o
berço de todas mudanças acorridas no século XX. Foram pelas contradições criadas
pela Primeira Guerra que a Revolução Russa, República de Weimar, Nazifascismo
e, claro, a Segunda Guerra Mundial ocorreram como ocorram, além disso, o
conflito bélico de enormes proporções seria responsável em alterar a visão do
europeu sobre ele mesmo sua ciência.
Porém antes de chegarmos aos "finalmentes"
precisamos entender o início desse conflito que deixou marcas sem precedentes
na humanidade, assim propomos as seguintes perguntas: por que Guerra Mundial?
Seria o tiro que matou o príncipe herdeiro do Império Austro-Húngaro a causa da
Guerra? E, por fim, como os desdobramentos dessa guerra não selaram a paz no
mundo e, pelo contrário, foram a origem da Segunda Guerra Mundial?
No
Barril de Pólvora chamado Europa, quem vai acender o pavio?
Desde 1871 a Europa não sabia o que
era uma guerra[1]. Ao menos, não um conflito
entre países do seu próprio continente. Afinal todos os interesses estavam
voltados principalmente para as colônias ultramarinas que as principais
potências europeias adquiriram durante o século XIX. No entanto, conforme uma
nação ia aumentando suas áreas de influência outras mais jovens (Alemanha e
Itália) galgavam um posto de potência colonial, principalmente perante a
Inglaterra e a França.
Pois bem, aqui já indicamos que
havia uma disputa entre Alemanha e Itália com Inglaterra e França, pelo
controle de maiores colônias na África e na Ásia, no entanto, lembremos que a
Grande Guerra tem início nos Bálcãs através de uma disputa entre Império
Austro-Húngaro e Rússia, assim, devemos nos perguntar: Por quê então essa
guerra se iniciou? E principalmente, qual a relação entre as disputas das
potências do Norte e Oeste da Europa com as disputas entre os países do Sul e
do Leste pelo controle dos Bálcãs?
Política
das Alianças
Tríplice
Aliança (1882)
A Tríplice Aliança foi formada 32
anos da eclosão da Primeira Guerra Mundial e era formada inicialmente por:
Alemanha, Itália, Império Austro-Húngaro e Império Turco-Otomano[2].
Essa aliança, organizada pela Alemanha, tinha como objetivo evitar o isolamento
do país que havia se unificado em 1871. No entanto a adesão dos outros países
tem relação direta com a disputa por territórios que garantiu a eclosão da
Grande Guerra.
¶
Alemanha – chamada pelos
alemães de Weltpolitik, a estratégia criada pelo Kaiser Guilherme II,
tinha como objetivo: realizar uma nova divisão colonial pressionando as
potências europeias e isolar a França. Essa política tinha base principalmente
as propagandas militaristas e um reforço das ideias de superioridade racial e
cultural (kultur) conhecidas como pangermanismo.
¶
Áustria-Hungria – anexar as
micro-nações dos Bálcãs era uma ambição desse Império, porém essa intenção
esbarrava nos interesses dos czares russos pela região.
¶
Itália – unificado em 1870,
o país possuía uma disputa territorial histórica com o Império dos Habsburgo
(Áustria-Hungria), pois durante a unificação perdera alguns territórios (irridentas),
porém o acordo foi assinado com a finalidade de garantir sua expansão colonial
e a defesa que fora proporcionada pelo Império Alemão.
¶
Império Turco-Otomano – ao
perder territórios nos Bálcãs para a Grécia, Bulgária e Sérvia, o império
enfraquecido buscou uma aliança com a Alemanha que já havia se estabelecido
comercialmente não território turco.
Tríplice
Entente (1907)
µ Entente Cordiale (1904) – o “entendimento cordial” foi uma
aliança formada em 1904 quando os franceses deixaram de reivindicar o Egito em
troca de apoio para dominar o Marrocos.
µ Tríplice Entente (1907) – o enfraquecimento do Império Russo
após uma derrota contra o Japão e uma tentativa de Revolução em 1905, mostraram
para a os britânicos que a Alemanha era a força militar dominante e deveria ser
observada com cautela.
Nos
tópicos acima vimos os interesses individuais de cada potência em se aliar,
porém é preciso saber como as vontades individuais de cada nação iam de
encontro com os objetivos de outra, o que fez com que em 1914 a guerra fosse
inevitável.
Potência
versus Potência
°
Inglaterra e Alemanha – disputavam
a hegemonia econômica e militar do globo.
°
Alemanha e França – inimigos
históricos, além de disputarem em outras guerras, como a Franco-prussiana
territórios fronteiriços (Alsáscea e Lorena), também tinham interesse em
territórios ultramarinos em comum.
°
Império Austro-Húngaro e
Império Russo – objetivavam o domínio dos países balcânicos que eram
essencialmente eslavos. Essas disputas também possuíam aspectos culturais, de
acordo com a ideia pan-eslavista, cabia à Mãe Rússia defender as micro nações
eslavas dos Bálcãs, porém a principal intenção era aproveitar o enfraquecimento
do Império Otomano e dominar o estreito de Bósforo e de Dardanelos.
°
Alemanha e Rússia – o país
germânico queria implementar uma estrada de ferro Berlim-Bagdá, por isso era
importante que as nações balcânicas estivessem sob controle dos aliados.
As
nações europeias já possuíam seus motivos e suas disputas pessoais que davam
sustentação à formação das alianças. Por um motivo ligado à dominação de
territórios e utilizando a defesa da soberania nacional como álibi, as
potências europeias deram início à corrida armamentista que ficou conhecida
como Paz Armada.
Paz
Armada (1871 – 1914)
Um dos principais fatores que
alarmou o cenário internacional nas últimas décadas do século XIX e início do
século XX foi o crescimento da indústria bélica nas principais potências
europeias.
A Companhia Krupp da Alemanha
empregava 16.000 funcionários em 1873, já em 1912 a Companhia empregava 70.000
pessoas com uma venda anual recorde de 70.000 armas. No entanto, embora fosse a
segunda maior potência militar as vésperas da guerra, não só a Alemanha estava
se armando. Confira as tabelas abaixo retiradas do livro “Era dos Impérios” de
Eric Hobsbawn.
Causas
da Guerra
Como vimos os países possuíam vários
motivos externos para entrar em conflito com os seus vizinhos europeus, mesmo
que o álibi fosse a defesa, a quantidade de armamentos produzidos e a de
exércitos mobilizados, mostrava que os países estavam, a qualquer momento,
prontos para o conflito mesmo que o desejo não fosse esse, vejamos o trecho:
“Nem aqueles que estavam apertando os botões da
destruição nela (na guerra) acreditavam, não porque não quisessem, mas porque
era independente de sua vontade”[3]
Porém o que levou à Guerra de fato
não foram os motivos externos isolados, afinal em 1911, Alemanha e França se
viram diante de um conflito que poderia ter estourado um conflito de
gigantescas proporções: a Crise de Agadir. Esse episódio ocorreu após o
enfraquecimento do Império Russo, esse acontecimento, encorajou os germânicos a
posicionarem no porto de Agadir (Marrocos), porém foram vencidos pelas tropas
francesas e a Inglaterra não interveio a favor de sua aliada, evitando um
conflito de maiores proporções.
À medida que os anos se passaram e
foi se aproximando o ano de 1914, problemas internos de vários tipos foram
ocorrendo nos principais países envolvidos na guerra. A Alemanha sofria com
levantes de trabalhadores e com uma intensa polarização política, e um êxito
externo poderia restabelecer a ordem. A Rússia também sofria com efeitos da
Revolução de 1905, e corria perigo de uma Revolução Social que derrubasse, no
mínimo, os poderes do czar. Por fim, a Áustria-Hungria necessitava conter as
agitações pluri-étnicas, pois os problemas com os eslavos poderiam levar à
desintegração do Império, e a Liga Balcânica já havia derrotado o Império
Otomano entre 1912 e 1913.
Portanto, em um primeiro momento já
podemos afirmar que a causa da Guerra não foi o tiro que assassinou ou
arquiduque Francisco Ferdinando, esse foi apenas o estopim de um conflito que
assombrava há anos a Europa, só faltava uma centelha para acender o pavio, ou
seja, bastava que entre o conflito de duas potências que pertencessem a
qualquer aliança sofresse intervenção de um terceiro, pois esse movimento,
geraria uma série de ataques que culminassem na Primeira Guerra Mundial.
Foi no dia 28 de junho de 1914 que,
o membro do grupo separatista sérvio Mão Negra, Gavrilo Princip disparou o tiro
que levaria ao óbito o herdeiro do Império Austro- Húngaro, Francisco
Ferdinando. O incidente foi o suficiente para que o a ideia de uma “lição na
Sérvia” mobilizasse as forças para a região dos Bálcãs, porém a Rússia saiu em
defesa da nação balcânica, no entanto o que ninguém esperava era que a Alemanha
partisse em defesa de seu Império Aliado, estava deflagrada a Primeira Guerra
Mundial, e nada mais podia impedi-la. A única esperança seria que o movimento
pacifista desse conta de boicotar a guerra, mas as massas aderiram[4].
Em Agosto, menos de dois meses, todos os países das Alianças já estavam em
Guerra, um conflito que nem o mais pessimista imaginava que fosse durar 5 anos.
Ao descer a escadaria da Câmara Municipal de Sarajevo, o Arquiduque Francisco Ferdinando não imaginava que ia ser assassinado, e muito menos que ali iria começar Primeira Guerra Mundial. |
No entanto ainda restam algumas
perguntas sem resposta: quais foram os desfechos dessa guerra para as potências
envolvidas? Os impérios sobreviveram a esse conflito? Como as potências se
organizaram para evitar um conflito posterior? Essas respostas veremos em: Primeira
Guerra Mundial – Parte 2 – Da Guerra à Paz?
[1] HOBSBAWN – 2006 p.420
[2] Uma pesquisa mais
minuciosa em várias outras fontes é possível encontrar mais países que aderiram
às duas alianças que deram origem à guerra, no entanto, nos restringiremos
somente aos que disponibilizaram mais soldados e que sofreram mais danos.
[3] HOBSBAWN 2006 p. 420
[4] Em seu livro Tacão de
Ferro, de 1905, Jack London sugere que o movimento operário organizado daria
conta de evitar um conflito de proporções mundiais, porém a sugestão literária
do escritor não passou das folhas de sua obra.