INTRODUÇÃO
Na primeira parte, PioneirismoInglês e Tecnologias, foram abordadas as questões tecnológicas e econômicas
que deram impulso à Revolução Industrial, assim como às causas que levaram a
Inglaterra a ser pioneira nesse processo que trouxe mudanças significativas que
persistem no mundo atual, porém questões de ordem social ainda ficaram por ser
respondidas.
Afinal, como era a vida da nova
classe dos proletariados? A evolução tecnológica significou uma evolução econômica
de quem cedia força de trabalho? E essas cidades que cresceram, recebiam os
trabalhadores lhes permitindo uma vida confortável e digna? Se sim, de que
forma isso foi organizado? Se não, o que esses trabalhadores fizeram para
garantir uma vida melhor e economicamente estável?
Gravura mostrando a paisagem londrina das fábricas, a fumaça, o cinza e o preto eram as cores das cidades industriais da Inglaterra. |
COTIDIANO
– A VIDA DENTRO DAS FÁBRICAS.
As fábricas surgiram, cresceram,
dominaram o cenário urbano da Inglaterra, e posteriormente de outras cidades da
Europa e do mundo, porém uma legislação pró-trabalhador não acompanhou o
processo, logo a exploração fabril era realizada ao gosto do burguês
capitalista que se aproveitava da situação.
Uma das questões primordiais da vida
fabril dos trabalhadores era a insalubridade. Carente de legislações que
visavam reduzir os danos à saúde, trabalhadores das minas de carvão, das minas
de ferro, da tecelagem e da metalurgia, sofriam constantemente de doenças,
principalmente pulmonares, alcançando um nível alarmante em 1850, no qual 100%
dos homens com 50 anos polidores de metais estavam com os pulmões adoecidos por
conta da fuligem.[1]
As jornadas de trabalho também eram
desumanas, iam de 14 a 18 horas por dia, e possuíam poucos horários de
pausa, esses, muitas vezes, eram utilizados para afazeres da fábrica como:
limpar as máquinas e organizar materiais para a produção. Além do que, maior
parte desse trabalho era desenvolvido por crianças e por mulheres,
muitas dessas pessoas perdiam seus membros nas máquinas e, por muitas vezes,
não eram indenizadas.
Os salários eram baixos, muitas
vezes só serviam para a alimentação bem básica e pagar o aluguel, muitos
operários morriam de fome, além disso, cientistas atrelados aos capitalistas
como Thomaz Malthus, elaboravam teorias para legitimar a pobreza. Segundo
Malthus, a população crescia muito mais do que a produção de alimentos, por
isso havia fome entre os operários, mas, se eram os operários que produziam as
mercadorias e os agricultores que produziam os alimentos, como mais
trabalhadores geraria menos produção?
Teoria essa foi contradita pelo
jornal Lancashire Co-operator citado por Eric Hobsbawn em Era das
Revoluções., segue o trecho:
“Não pode haver riqueza sem trabalho [...] O trabalhador é a
fonte de toda riqueza. Quem tem produzido os alimentos? O pobre e mal
alimentado lavrador. Quem construiu todas as casas e armazéns, e os palácios,
que pertencem aos ricos, que jamais trabalham ou produzem qualquer coisa? O
trabalhador. Quem tece todos os fios e faz o tecido? As tecedoras e os tecelões
[...] o operário continua pobre, ao passo que os que não trabalham são ricos e
possuem abundância em excesso”[2]
A vida no interior das fábricas era
ruim e degradante, porém a situação não era muito diferente nos bairros
operários, que cresciam próximos às regiões industrias, e essa situação não
mudou, mesmo quando as residências dos trabalhadores foram levadas para o
subúrbio.
Abaixo segue o documentário da BBC - As Crianças que Construíram a Grã-Bretanha Vitoriana - que aborda o tema do recrutamento, educação e o trabalho infantil na Inglaterra.
COTIDIANO
– A VIDA FORA DAS FÁBRICAS
A vida nas áreas operárias era
marcada de vários problemas que surgiram ou se intensificaram com a Revolução
Industrial e a urbanização desenfreada. Como as cidades foram crescendo
rapidamente, não houve tempo, ou vontade, para que se organizasse uma cidade
salubre e inclusiva. Logo os proletários, que já sofriam nas fábricas, ao
retornar para o lar encontravam um ambiente tão hostil quanto o do trabalho.
Um dos problemas que se
intensificaram durante a Revolução Industrial foi o alcoolismo, a
embriaguez era um componente da rápida industrialização e da urbanização
desenfreada, podendo-se dizer que houve uma disseminação de uma peste
alcoólica, não só na Inglaterra como na Europa inteira, pois como se dizia na
época “o álcool era a maneira mais rápida para se sair de Manchester”. A
hostilidade à embriaguez era proveniente tanto de patrões quanto de movimentos
operários, o que mostra como o problema se tornou emblemático e universal no
continente europeu, a ingestão excessiva de bebida alcoólica era vista como
algo desmoralizante.
O surto de grandes epidemias
reapareceu na Europa, principalmente doenças como a cólera que era transmitida
pela água, decorrentes principalmente da falta de saneamento básico. Prostituição,
infanticídio, suicídio e demência também eram problemas recorrentes
que foram associados a esse turbilhão de mudanças que surgiu na Inglaterra.
A Estrada do Gim – William Hogarth - a gravura demonstra a vida "desmoralizadora" das áreas operárias, o alcoolismo, uma das práticas mais criticadas se faz presente na obra.
|
Com problemas na fábrica e fora
dela, o que os trabalhadores podiam fazer para pressionar seus patrões e o
governo a lhes concederem melhores condições de trabalho? Qual foi a melhor
solução encontrada pelos operários e em que isso resultou? É o que veremos nos
próximo tópico: Movimentos Operários.
MOVIMENTOS
OPERÁRIOS
Os movimentos operários trouxeram
uma nova perspectiva para a luta por direitos, esses movimentos, consequência
dos processos ocorrido nos século XVIII, tiveram seu ápice na primeira metade
do século XIX, com seu maior exponencial em 1848, esse movimento foi
alavancado, principalmente, pelas lutas populares que se iniciaram na França em
1789, mais bem dizendo: pela Revolução Francesa[3].
Os confrontos do século XIX
trouxeram a tona novos tipos de organização, a luta deixou de ser
necessariamente entre pobres e ricos, para se tornar uma luta entre classe
trabalhadora e burgueses, a principal tática utilizada era greve. No entanto,
outras atitudes mais enérgicas também foram tomadas pelos trabalhadores.
O ludismo, que ganhou esse
nome por ser liderado por Ned (ou King) Lud, é o movimento de trabalhadores que
se rebelaram especificamente contra a máquina, pois consideravam que apenas o
mecanismo era gerador dos problemas operários, principalmente o desemprego,
esse grupo ficou conhecido principalmente porque quebrava as máquinas e, por
mais estranho que pareça, era apoiado por pequenos agricultores que viram sua
produção reduzir por conta da mecanização. Em 1812 foi lançado o Frame
Breaking Act, decreto que levava à pena de morte quem destruísse as
máquinas e distribuía recompensas para as pessoas que denunciassem os ludistas.
Breaking Frame Act - no cartas a recompensa de 50 guinéus para quem entregar as pessoas que quebravam máquinas. |
Posteriormente, surgiu o movimento cartista,
que através de greves e representantes no parlamento, buscou inserir leis que
emancipavam os operários e colocava uma legislação para impor limites em
relação ao trabalho exercido na fábrica. Esse movimento possuía esse nome por
se basear na “Carta do Povo”, documento escrito em 1838 e entregue ao
parlamento inglês com seis exigências fundamentais, vejamos a seguir:
ü
1º. Voto para cada homem maior
de 21 anos, mentalmente são e sem antecedentes penais;
ü
2º. Papeleta eleitoral para
proteger o eleitor no exercício de seu voto (voto secreto);
ü
3º. Que não haja qualificação
com base em suas propriedades para eleição dos membros do Parlamento; desse
modo os distritos eleitorais poderão exercer democraticamente o seu direito de
eleger um homem que os represente, seja ele pobre ou rico;
ü
4º. Pagamento dos membros.
Dessa maneira será permitido aos honestos comerciantes, trabalhadores ou
qualquer outra pessoa servirem ao seu distrito eleitoral de forma intensiva,
despreocupando-se de seus problemas pessoais;
ü
5º Nivelação dos distritos
eleitorais para assegurar uma representação igualitária com o mesmo número
de eleitores, em lugar de permitir que distritos eleitorais pequenos tenham uma
representação maior que outras regiões mais extensas;
ü
6º Parlamentos anuais:
dessa forma será obtido um controle mais efetivo sobre os representantes, que,
ao serem renovados anualmente, terão muito cuidado do que agora em não enganar
o povo que os elegeu, pois se é possível subornar ou comprar um cargo por um
período parlamentar de seis anos, é de se supor que, sob a égide do sufrágio
universal e sendo de um ano a duração de um mandato, não haverá dinheiro que
chegue para se pôr em prática o que agora é feito impunemente;
Como podemos ver, os movimentos
operários não surgiram imediatamente após a data fixada como início da
Revolução Industrial, mas esses foram de suma importância para que cada vez
mais as leis trabalhistas fossem ampliadas, não só na Inglaterra, mas no mundo
todo à medida que o tempo foi passando. O movimento cartista, por exemplo,
continha principalmente exigências políticas, que posteriormente deram lugar às
reivindicações conquistadas como: jornada de 8 horas de trabalho, proibição do
trabalho noturno para mulheres e crianças, direito a férias e salário mínimo.
Hoje, medidas neoliberais estão na
contramão dos movimentos trabalhistas, pois se alega que o excesso de direitos
dos trabalhadores traz problemas de ordem econômica para todos, porém cabe a
reflexão: será que o direito trabalhista interfere tanto assim a ponto de ele
ser causa dos seus próprios problemas? Ou será que as burguesias estão em busca
de mais lucro e exploração?